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Se há uma comida que me liga afetivamente aos meus ancestrais japoneses, é o mochi (ou moti). É um bolinho feito com mochigome, um tipo de arroz de grãos arredondados que fica bem grudento ao ser cozido. Eu gosto do mochi mais simples, sem recheio ou cor, como os que eu comia na casa dos meus avós paternos, em Pereira Barreto/SP, nas comemorações pelo Ano-novo (Oshogatsu, em japonês).

Minha avó trazia o arroz cozido e quentíssimo até um enorme pilão de madeira. Em seguida, vinha com um caldeirão de água bem quente. Os homens da família então se enfileiravam, encabeçados por meu avô, e socavam o arroz cozido de forma ritmada, usando um batedor pesado. No intervalo em que o batedor subia, minha avó virava o arroz e o molhava com água quente. Aquele ritual cheio de sincronismo continuava até que se formasse uma massa branca, perfeitamente lisa e elástica. O mochi então seguia para a cozinha, onde era moldado em formato de bolinhos, rolados em maizena.

Meu avô morreu em 2003. Embora siga lúcida e bem humorada, minha avó já não faz mais mochi – aos 97 anos, faltam-lhe o vigor e a destreza de antes. Pereira Barreto tornou-se um lugar cada vez mais distante e difícil de chegar. E cada vez mais habitado pelas minhas lembranças de infância.

Se hoje já não como mais mochis feitos com aquele ritual, pelo menos posso prepará-los em casa bem rapidinho usando farinha de arroz glutinoso. Ou posso seguir as sugestões sempre certeiras do VH-San e usar a farinha de arroz glutinoso para preparar mochi brownies!

Levei uma fornada deles para o trabalho. Avisei a todos sobre a textura diferentona, puxa-puxa, e recomendei que pegassem pedaços pequenos para não ter que jogar fora, caso não gostassem. Quem disse. Todo mundo adorou e a fornada acabou num piscar de olhos. Pessoalmente, achei bom, mas preferia que fosse menos doce e que tivesse um sabor mais intenso de cacau/chocolate. Mas ninguém concordou comigo 😉

Receita daqui