Feliz(?) 2021
11 de janeiro de 2021
Olá, como você está? Espero que tenha podido descansar e recarregar as baterias durante o período de festas para entrar este novo ano com força total.
Este, infelizmente, não é o meu caso. Eu me sinto exaurida como se tivesse sido drenada, como se estivesse vivendo um ano interminável. Um ano todinho feito de dias da marmota. É possível que mais gente se sinta assim, né.
Se este é o se caso, eu queria muito ter alguma palavra de consolo para dar, algo que restituísse o seu ânimo e o meu, mas não tenho. Quando olho para os sinais que vêm do futuro, tão incertos e/ou sombrios, tenho vontade de voltar para a cama e acordar quando tudo passar.
Mas essa não é uma alternativa viável. Nem boa. Então vou dividir com você o que eu estou fazendo para atravessar esse momento.
Todo dia, pela manhã, eu vejo o que eu preciso/posso fazer naquele dia. E só naquele dia. E faço o melhor que posso.
Não incluo um montão de tarefas e obrigações, pois nem tenho energia para tanto. Escolho a tarefa mais importante do dia no trabalho remoto; a tarefa mais importante no cuidado com a casa; a tarefa mais importante no cuidado com a família. O resto, se eu me sentir bem disposta, posso até fazer. Mas não forço a barra.
Também procuro incluir algo que eu possa fazer para me sentir melhor. Tenho sentido muita preguiça de fazer atividade física, mas como melhora a minha mobilidade e disposição, eu faço. Meditar me faz bem, mas não pratico há um bom tempo. Comer um doce ou tomar uma cerveja, pode até ser, mas só se eu realmente estiver com vontade (não porque estou precisando de anestesia/alívio/compensação/distração, senão fico pior, depois). E, mesmo que a vontade seja de me isolar, me esforço a passar um tempo com as pessoas que eu amo. O contato com eles me faz sentir melhor e, embora eu esteja me achando péssima companhia, acho que eles se beneficiam disso também.
A gente (leia-se: eu e, talvez, você) tem a tendência de passar por cima do que sente nesses momentos de baixa. Talvez por medo de afundar e não conseguir voltar à tona; talvez por não querer preocupar quem está ao nosso redor. Mas essa não parece ser a melhor escolha.
Mergulhar nos sentimentos incômodos, por mais difícil que seja, nos faz crescer e nos leva a um lugar melhor. E se dá medo não conseguir voltar das profundezas, dê a mão a alguém capaz de trazer você de volta. Uma boa pedida é fazer terapia (eu faço há muitos anos).
Quanto ao medo de preocupar/incomodar alguém, vamos pensar juntos aqui. Se alguém realmente se importa com você, vai querer saber, sim, que você não está bem. E mais: vai se sentir feliz de poder ajudar.
Mas sempre tem aquelas pessoas que, na melhor das intenções, tentam ajudar a gente a se levantar aplicando um pescotapa. Aquelas que, no afã de botar a gente no prumo, recorrem ao nosso sentimento de culpa – “assim você assusta as crianças/seus pais/insira-aqui-alguém-que-é-importante-pra-você”; “você tem saúde, tanta gente morrendo por aí”; “você devia ser agradecida por tudo que tem”. Esse tipo de fala dificilmente ajuda de verdade. E diz muito sobre a dificuldade que é lidar com o sofrimento alheio – se não dá para curá-lo, é melhor silenciá-lo.
As pessoas vão se assustar em ver você fragilizada? Talvez, se elas nunca viram você descer do pedestal. Mas é bom para elas saber que você é de carne e osso, vulnerável, e que está sujeita a dias ruins – isso humaniza a visão que têm de você e as libera para vivam suas dores sem achar que são fraquezas ou tabus.
Você tem muito a agradecer na vida? Certamente, mas só você sabe a medida do seu sofrimento, que não é igual ao de mais ninguém. Saber que há gente no mundo que enfrenta mais perdas do que você não invalida o que você está sentindo.
Voltando às pessoas bem intencionadas, se elas realmente importam para você, seja honesta com elas: explique como podem ajudar. Ou, pelo menos, diga que fazer você se sentir pior por estar mal não ajuda nada.
Às vezes, alguns minutos de escuta presente já significam muito. Em tempos de pandemia, em que não dá para dar colo presencial, um bom livro emprestado, um bolo fresquinho, uma indicação de série podem ser injeções de ânimo em quem está borocoxô.
Eu espero que, num próximo post, nós (eu – e você, que se eventualmente identificou) estejamos vendo o sol brilhar de novo. Mesmo que seja entre nuvens.
Esses comentários do tipo “ah, mas tem muita gente pior”, me irritam profundamente. Uai, por acaso me inscrevi em uma competição para ver quem está pior?
Para mim, o que funciona nessas horas é gentileza. Antes era muito dura comigo, sempre fui minha pior crítica. Hoje, aprendi: nos momentos mais difíceis, sou mais gentil comigo mesma. Me acolho, e faço como você: o que dá. Outra lição muito difícil que aprendi foi: pedir ajuda (psiquiatra inclusive, se precisar – e já precisei muito!). E a última: yoga. Os dias que menos quero fazer, são os que mais preciso, então eu pelo menos sento lá no meu tapete e respiro. Nunca me arrependi de fazer, sempre saio melhor do que entrei.
Que 2021 traga vacina e um pouco de normalidade! Beijo!
Reconhecer que não dá conta sozinha, pedir ajuda, aceitar ajuda… incrível como tudo isso é difícil. Só não é mais difícil do que todas aquelas posturas incríveis que você faz 😉
Beijo, querida. Que venha a vacina para todo mundo.