Se você não suporta fígado bovino, ou qualquer outro fígado que não seja o seu mesmo, pode sair deste post, eu entendo. De verdade, até ter filhos, eu jamais pensaria que o fígado voltaria algum dia à minha mesa. Pior ainda: eu jamais pensaria que EUZINHA botaria minhas mãos nessa carne tão envolta em membranas esquisitas preconceito.
Acontece que o pediatra das crianças é old school e receitou fígado uma vez por semana para aumentar o aporte de ferro deles. E como praga de pediatra é tão braba quanto praga de mãe, resolvi encarar o inimigo de frente20.
Entrei na internet determinada a encontrar a fórmula do fígado perfeito. O que eu não gostava nos fígados da minha infância? Que eu me lembre, o cheiro (que era muito forte) e a textura (que era dura e borrachenta).
Recolhi muitas dicas interessantes por aí. E, como eu sou amiga suas, vou compartilhá-las:
* MARINA, MORENA, MARINA: Uma marinada pode fazer maravilhas pelo fígado. Mas não use sal, para não desidratá-lo – deixe para salgar já na frigideira. Da mesma forma, não carregue a mão nos ingredientes ácidos para não começar a cozinhá-lo antes da hora.
* GOT MILK?: Não é só Cleópatra que ficava toda gostosa depois de um banho de leite. O fígado também se beneficia – supostamente, fica mais macio e com cheiro mais suave.
* CHAPA QUENTE: Frigideira de fundo grosso, pelando de quente, para selar o fígado e manter a umidade dentro dele. Se a sua frigideira não for grande, trabalhe com pequenas porções de cada vez (do contrário, a frigideira vai esfriar e, até que ela volte a ficar quente, o fígado terá soltado um horror de líquido e cozinhado nele, ficando duro e ressecado – tudo que a gente não quer).
Gente, sabe que funciona? Hoje preparei iscas de fígado aceboladas para as crianças e tive que me conter para não “experimentar” demais 😉
Dicas para a receita coletadas principalmente daqui, daqui e daqui
400 g de fígado bovino em filés (peça ao seu açougueiro para limpá-lo para você)
1/4 de colher (chá) de mostarda em pó
1/4 de colher (chá) de alho picadinho
1 colher (sopa) de vinagre de arroz (eu usei porque era o que estava aberto, mas use o que achar melhor – vinho tinto me parece uma boa opção)
Leite quanto baste (qualquer leite – usei desnatado porque estava aberto)
Óleo de canola – um fio
2 a 3 colheres (sopa) de shoyu
Sal a gosto (veja se é necessário, já que o shoyu é salgado)
Corte o fígado em iscas (isto é, em tirinhas finas) e acomode em uma tigela de vidro. Ali, adicione o alho, a mostarda e o vinagre. Misture bem e reserve por uns minutinhos – tempo suficiente para descascar a cebola e cortar em tirinhas.
Na tigela do fígado, despeje leite em quantidade suficiente para cobrir a carne (não é muita coisa – para mim, menos de 100 ml foram suficientes). Cubra com filme plástico e leve à geladeira por 1 hora. Passado esse período, retire o fígado da geladeira e escorra o excesso do leite.
Leve ao fogo uma frigideira grande, de fundo grosso. Quando ela estiver bem quente, deite um fio de óleo e, em seguida, uma porção do fígado. Quando as iscas já estiverem douradas, empurre-as para os lados da frigideira e prepare mais uma porção no centro. Repita o procedimento até acabar com todas as iscas.
Adicione então o shoyu, misture bem e deixe o sabor apurar por 1 minuto. Some a cebola e deixe cozinhar até que ela fique macia. Prove e acerte o tempero, desligando o fogo em seguida.
Sirva com arroz, feijão e uma saladinha. Ou com palitinhos de dente espetados, para beliscar enquanto bebe uma cerveja gelada. Ou dentro de um pão francês fresquinho. Enfim, do jeito que quiser.
* Em muitos sites gringos, encontrei a seguinte dica: o fígado bovino obrigatoriamente deve ser de vitelo (vitela?), isto é, de um animal jovem. Não me lembro de já ter encontrado isso no açougue. Você, já?